A televisão permite um fenômeno muito interessante: acompanhar em tempo real o crescimento do trabalho de um ator em construção, quando há de fato um crescimento, o que não é tão freqüente. É o que o público está vendo acontecer com Cauã Reymond. Ele, que estreou na TV em "Malhação" em 2002 com um desempenho apagado, desde o início de "A favorita" vem tendo uma atuação excelente, e, de duas semanas para cá, simplesmente está roubando todas as cenas em que aparece. E no produto mais importante da TV aberta. Com a virada de Halley, que começou com uma pegada cômica e agora está no centro de um drama folhetinesco, Cauã virou o dono da novela. Está para "A favorita" como Camila Pitanga esteve para "Paraíso tropical".
É resultado, claro, do talento de um ator aplicado. Mas também da direção acertada de Ricardo Waddington e da sensibilidade do autor, João Emanuel Carneiro, que apostaram nele para um papel de risco. É que antes da estréia de "A favorita", Cauã já tinha mostrado que saberia interpretar um malandro. Em "Belíssima", ele se saiu bem como o garoto de programa Mateus. Mas deixou dúvidas se não seria um ator de um personagem só: Halley era uma espécie de evolução de Mateus, um sobrevivente safo, cheio de ginga etc.
Cauã diz que ainda se lembra da cena que fez, em 2002, com Bárbara Borges. Sem saber como se movimentar, começou a alternar o peso do corpo entre as duas pernas. Levou uma chamada do diretor e aprendeu que não é preciso balançar o corpo para atuar. Aprendeu, aliás, muito mais do que isso. Hoje, ele se mostra maduro: sabe fazer rir, mas também passar uma emoção genuína. E o mais importante: sem apostar em estereótipos, há sempre nuances e dubiedades em suas atuações, o que faz o personagem crescer, se impor ao telespectador como um tipo humano possível. Depois de "A favorita", com certeza a televisão ganhou um novo ator, pronto e preparado para outros tantos desafios.
Escrito por Patricia Kogut do jornal O Globo
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